domingo, 21 de dezembro de 2008

A virada

Holly sempre foi de cultivar longos relacionamentos. Aliás, não foram muitos, apenas um. No começo, até era uma garota namoradeira, pegadora mesmo, daquelas de atitude. Porém, isso não passou de uma fase colegial. E já com 17 engatou seu primeiro namoro "sério" e desde então não largou mais.
Conhecera por intermédio da familia. Era um rapaz cinco anos mais velho, primo de uma amiga sua. Daí já viu. Viviam a se encontrar em qualquer evento familiar. Isso até virou uma desculpa. Ah, se os cantinhos da casa falassem...Pois bem. A euforia com o tempo foi cedendo e o clima rotineiro começou a ganhar espaço. Tudo faziam juntos até que chegou o momento que nada mais parecia ter graça. Ela que então acabara de completar a maioridade se sentia enfadada, como se estivesse perdendo um tempo bom e único da sua vida presa a um relacionamento que a impedia de viver as "boas" coisas da vida.
Evidentemente, ele também sentia o mesmo. Porém, como para homem as coisa as vezes parecem mais simples, este sempre dava um jeitinho de escapulir. Assistir o jogo com os amigos, o barzinho do final de semana e todas aquelas atividades masculinas que mulher odeia só de pensar.
Toda a monotonia conjugal acabou por tornar Holly o pilar do relacionamento. Se as coisa iam pior do que o convencional , ela sempre buscava uma maneira de amenizar as coisa para que tudo não desmoronasse de vez. Isso acabou por acostumá-lo mal, pois não o fazia tomar atitudes para melhorar a convivência e apenas a ir empurrando com a barriga.
A situação ia se arrastando a banho-maria quando ele conheceu Mariana. Garota boa pinta, jeitosinha, do tipo arrasa quarteirão. Deixou-o louco. Tão louco que não hesitou em pôr um fim ao relacionamento com Holly. Obviamente que ele não entrou com carrão de sena. Chegou com aquela conversinha mole de que precisava de um tempo para colocar algumas coisas em ordem, que um tempo seria bom para os dois, e demais lenga-lengas do gênero.
Para Holly era a gota d'água. Estava cansada daquela situação. E para espanto dele, ela aceitou com um ar quase natural de "é...é melhor mesmo". Afinal, eram quatro anos. E ela sentia a necessidade de respirar.
Não demorou nada e ela resolveu aproveitar o que tinha deixado passar e logo no primeiro dia tomou porre daqueles. Encheu a cara num misto de raiva e alívio. Raiva por sentir que tinha perdido um bom tempo em relacionamento sem futuro e alívio por ter tempo ainda para recomeçar e viver o que ainda não tinha vivido. Sair com as amigas, conhecer outros homens, viajar, badalar e tudo o mais que tivesse direito.
A atitude de Holly o tomou de supetão que o fez repensar sua decisão. Como poderia ela aceitar dessa forma, logo ela que sempre era quem corria atrás, a primeira a dizer que era necessário tentar mais uma vez, a não jogar uma história fora.
Percebeu que desta vez seria de vez. Iria perdê-la. E este sentimento o fez entrar em parafuso. Não conseguiu controlar o desejo de possuí-la novamente, saber e sentir que ela era dele, e só dele. E este sentimento egoísta, de posse, o fez tomar uma atitude. Talvez a primeira do decorrer de toda esta história: pediu-a em casamento. E pra já. Tão logo pudesse. Antes que ela pudesse tomar gosto pela vida de solteira. Ela claro, bancou a durona só para ter o gostinho de vê-lo implorar para que ela aceitasse. Mas é claro que era tudo o que ela mais queria.
No final das contas, Holly reverteu o jogo e se viu satisfeita com o resultado. Talvez nunca tivesse atentado para o imenso poder que as mulheres possuem de manipulação. E isso tornara-se perigoso, porque agora sabia que possuía a faca e o queijo na mão e como se sabe, num descuido, poderia vir a machucar-se, pois o feitiço sempre pode vir a virar-se contra o feiticeiro.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A farsa

Marjorie via-se perecer a cada ano que passava numa velocidade súbita. O viço da sua beleza cedia lugar a um constante ar de fadiga e até mesmo, doentio.
Havia pouco mais de dois anos de casada que mais pareciam 30.Toda a paixão fulminante do início havia se reduzido a quase pó. As loucuras, declarações davam lugar agora às súplicas, discussões cada vez mais constantes. Ela cobrava a atenção devida e ele chegara ao ponto de por vezes, detestá-la, por não suportar suas insistentes cobranças.
Odiava as chantagens dela, pois suas cobranças só colaboravam para diminuir o sentimento que ainda lhes restava por ela. Gostava dela, lhe tinha afeição, mas por que tem que ser tão insuportável? Pensava ele.
- Não vá, por favor. Fique comigo. Implorava ela.

- Me deixe em paz. Pensava ele.

Mas apesar de tudo, lhe faltava a coragem necessária para colocar um ponto final naquela relação que para ele, tinha se tornado um fardo. Tinha um sentimento de pena e no final das contas, não lhe queria mal.
O comodismo havia se instalado na vida daquele casal que no final das contas, pareciam não ter mais motivo algum para continuarem juntos. Ele, a qualquer momento arranjara desculpas para não permanecer em casa. Não tardou a começar a se interessar por outras mulheres, chegando cada vez mais tarde em casa. E Marjorie cada vez mais, afundava na amargura de seu inexorável destino.
Marjorie por vezes lamentava não dar aos seus sentimentos a expressão violenta que eles exigiam. Possuía um excepcional auto-controle, pois partia da idéia que somente mulheres de baixo calão faziam cenas e barracos.
No entanto, Marjorie era extremamente obcecada pelo marido. Não imaginava a vida longe daquele homem. O amor por ele superava o seu amor-próprio. Pensava que toda aquela situação passaria com o tempo; que se tratara de uma fase típica de casais; que o casamento não é feito apenas dos bons momentos e que o verdadeiro amor reside no fato de ter força para superar os momentos ruins; e outras lenga-lengas do gênero.
Chegara o aniversário de três anos de união. Ele obviamente não se lembrara. Mas ela não perdia a chance e a esperança de tentar reconquistá-lo, ou na melhor das hipóteses, comovê-lo.
Nesta noite os dois viveram um efêmero estado de intimidade. Um estado de relações repleta de uma singular falsidade.
Entretanto, o descaso dele falaria mais alto. Como não lembrara-se da data, já havia marcado um compromisso o qual não desmarcaria por conta da ocasião, deixando Marjorie sozinha no decorrer da noite.
Parecia o fim; a gota final; e Marjorie parecia realmente disposta a largar esta vida de amargura. Pegou uma mala e começou a jogar alguns pertences dentro. Mas no decorrer da arrumação pôs-se a pensar: Para onde iria? Como se sustentaria? Com quem contaria? Não possuia emprego, nem muitas experiências. Seus pais não moravam na cidade e também não poderiam ajudá-la naquele momento. Viu-se sozinha, num vácuo e pensou que já era ruim com ele, pior seria sem. Acabou por esvaziar a mala e a guardá-las novamente.
Voltou portanto, a representar a farsa que era o seu casamento.

domingo, 23 de março de 2008

A viagem

Natalie parecia envelhecer 20 anos em 10. Era do tipo perfeccionista e rabugenta. De tão perfeccionista, chegou aos 18 sem nunca ter namorado a não ser um breve beijo frustrado na adolescência. Nunca foi uma pessoa típica à idade que tinha. Na adolescência era a aluna exemplar da classe a qual tomava todas as responsabilidades para si, aquela que em um grupo queria que todos trabalhassem mas à sua maneira. Agora já adulta, permanecia a mesma. Não era adepta de baladas e curtições. Seus programas sempre foram aqueles que de preferência pudessem ser feitos em casa: sessão de filmes, churrascos, jantares em familia, etc.
Dedicava-se quase que exclusivamente aos estudos, pois almejava consolidar-se profissionalmente o mais breve possível. Aos 22 anos já estava formada e lançando as bases de uma pós-graduação.

Conheceu aquele que viria a ser seu marido ainda na faculdade. Era 10 anos mais velho que ela, e estava na sua segunda faculdade. Além disso possuía estabilidade financeira e também fazia o tipo pacato, bem de acordo com os ideais de felicidade almejados por Natalie.

A vida pacata seguiu-se após o casamento. Um tornou-se o suporte do outro. Iam crescendo profissionalmente e aos poucos adquirindo os bens necessários para alimentar seus alter-egos: uma cobertura, carros do ano, casa de praia, etc.

Natalie nunca fez o tipo medíocre em relação aos estudos. Gostava de se aperfeiçoar. Por isso sempre estava envolvida em eventos ligados a sua área. Mas, uma viagem em especial, pareceu dar algo a Natalie a qual ela nunca havia se permitido: ousadia.

Era um congresso realizado em outra cidade e no qual Natalie seria uma das conferencistas. O evento duraria dois dias, começando as 8 e terminando as 18 h. Tudo dentro da sua normalidade.
Ela fazia parte da última mesa de conferência e ao final, surpreendeu-se com um congressista que fitava-lhe os olhos em um tom de admiração e desejo. Era um homem charmoso e sedutor. Uma espécie de Jude Law latino-americano. Aquele homem conseguira algo, digamos, um tanto surpreendente: deixá-la hipnotizada.

Natalie voltou ao hotel encantada e perguntando-se o que estava acontecendo consigo. Não podia pensar em coisas do tipo, afinal era uma mulher casada, e bem casada, diga-se de passagem. Como poderia agora se interessar estupidamente por alguém que ela nem sequer conhecia. Não sabia seu nome nem sua origem. Correu para tomar uma ducha e deitar-se na tentativa de esquecer aquele "inconveniente". O que de fato, foi impossível.

No outro dia, arrumou-se, tomou um rápido café e seguiu para o evento. Como estava atribulada por tantas coisas a fazer e pensar acabou "esquecendo-se" por algum tempo do acontecido da noite anterior.

Terminado o evento ele foi a sua procura. Declarou-se encantado com sua beleza e na sofisticação expressada na sua conferência. Neste instante olharam-se nos olhos. Aquele olhar fatal, transbordante de desejo. Um desejo logo reprimido por Natalie.

Ela saiu correndo em direção ao hotel buscando evitar a situação. Como no dia seguinte estaria a milhas de distância daquele lugar, confiava que tudo voltara ao normal e que, no máximo, alguns dias a fariam esquecer de tal situação. Ledo engano.

Após recolher-se eis que o inusitado se apresenta. Alguém bate à sua porta. Num súbito susto pensou se tratar daquele ser "inconveniente" que insistira em atormentar seus pensamentos. Logo voltou a si e considerou se tratar de algum funcionário do hotel a lhe fazer alguma solicitação ou algo semelhante.

Ao abrir, foi subitamente tomada por aquele indivíduo abusado, o qual não lhe deu nenhum direito a resposta. A noite foi tórrida, diferente de tudo o que havia vivido. O tal individuo estava hospedado no mesmo hotel e na noite anterior havia a seguido, sem que ela percebesse.

Ao voltar, Natalie foi corroída pelo sentimento de culpa. Mas nunca deixaria sua vida ser levada por uma aventura, um ato impensado. Sua palavra chave era estabilidade. E isso, ela não colocaria a perder. Bancou a dissimulada. Nada havia acontecido. E assim seguiria a sua vida. E do tal "indivíduo", nunca mais teve noticias. Mas de vez em quando pegava-se pensando no ocorrido e talvez, inconscientemente, lhe ocorresse a vontade de repetir a dose.


sábado, 15 de março de 2008

O reencontro

Claire estava no auge da adolescência quando se apaixonou perdidamente. Uma daquela paixões avassaladoras típicas deste período onde tudo é muito intenso.
Era uma garota extremamente alto astral daquelas para quem não existia tempo ruim. Sempre estava metida no meio dos adultos, pois estes adoravam a sua alegria de viver que colocava qualquer um para cima.
Mas tudo pareceu mudar quando conheceu aquele a quem ela pensava ser o seu príncipe encantado. De inicio parecia ser um homem encantador, mas com o tempo foi mostrando sua verdadeira face: um homem extremamente ciumento e controlador. Daquele tipo que controlava desde a roupa a agenda do celular.
Claire não suportava aquelas atitudes as quais nunca tinha tolerado em nenhum de seus relacionamentos anteriores, mas pela intensa paixão submetia-se aos caprichos do namorado. Com o tempo a Claire de antes já quase não existia. Saia pouco, já quase não se arrumava dedicando-se para o relacionamento quase que exclusivamente. Mal sabia que ali residia seu grande erro.

O trabalho dele envolvia viagens e portanto, as vezes passava o final de semana fora. Mas com o passar do tempo as viagens pareceram se tornar mais freqüentes do que o normal. Quando ligava para ele nunca estava em casa. Como não se dava com a familia dele não tinha nem como saber de algo e a situação não tardou a piorar.
Antes ele ia a ver quase todos os dias e quase não largavam ao telefone falando um com o outro. Passado o tempo sempre inventava uma desculpa para não a ver. E assim foi. Ia, as vezes sim, as vezes não até que chegou o momento em que ele não apareceu mais.

Claire entrou em depressão. Nada parecia lhe conferir sentido. Ficava imaginando o que havia feito de errado para que ele a abandonasse desse jeito, sem oferecer nenhuma explicação. Telefonava, mandou cartas e nada. Chegou até ao ponto de ir à casa dele mas não o encontrou. Passou vários meses em profunda melancolia e pensando que sua vida tinha acabado ali.

Com tempo foi recuperando a auto-estima, principalmente por ter conhecido outra pessoa que a ajudou a curar a ferida aberta, mesmo assim ela ainda nutria o sonho de que um dia ele aparecesse pedindo perdão e que recomeçassem novamente. O que de fato era mera ilusão. Nunca mais o viu.

Quase uma década se passou e num daqueles encontros casuais andando pela rua deparou-se com aquele sujeito o qual quase não reconheceu, mesmo sabendo que era ele, pois nunca esqueceria aquele rosto. Ele passou por ela e obviamente teve a mesma sensação. Pensou em cumprimentá-lo mas não teve coragem. Deixou passar. Toda a história lhe voltou à cabeça. Ficou entre a cruz e a espada. Sentiu o desejo de chamá-lo e mostrar o quanto havia amadurecido e que não era mais aquela adolescente boba, mas ao mesmo tempo jamais deixaria-se passar por situação análoga. Perdoar, talvez. O tempo sempre ajuda a esquecer. Mas de fato, esquecer, nunca esqueceu.
Perdoar torna-se até fácil, mas esquecer, jamais.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Ser mulher é...

*Este post foi criado especialmente em comemoração ao Dia Internacional da Mulher no próximo dia 08/03.

Louise era uma mulher tipicamente atarefada. Assim como muitas outras, fazia milagre com as horas do dia para conseguir conciliar todos os seus afazeres. Casou-se cedo e logo foi agraciada com uma gravidez, a qual foi muito bem vinda. Entretanto, o nascimento do filho acabou por lhe obrigar a largar a faculdade por um certo tempo.
Quando se viu pronta a retomar os estudos deparou-se com a difícil missão de conciliar a faculdade e cuidar de uma criança. Tantas vezes saiu no meio da aula por conta de uma crise de cólica. Quantas vezes faltou às aulas ou trabalhos devido a uma garganta inflamada que insistia em acometer seu filho.

Apesar de todo o seu esforço, sentia-se frustrada por não ter o tempo necessário para dedicar-se aos estudos ou cuidar melhor do filho. Era uma coisa ou outra. E ela queria fazer bem os dois. Mas infelizmente não lhe foi possível e teve que fazer uma dura opção, pois lhe partia o coração ter que parar de estudar.
Loiuse virou uma perfeita dona-de-casa. Cuidava do filho e dos demais serviços domésticos. Quando chegava ao fim do dia estava exausta. A renda familiar não possibilitava a contratação de uma auxiliar, pois somente o marido trabalhava e todas as despesas da casa já eram demasiadamente pesadas.
Somente quando o filho cresceu um pouco mais e começou a freqüentar a escola foi que Louise conseguiu voltar à faculdade. Todo o seu tempo era cronometrado . A noite, preparava o almoço do dia seguinte. Acordava-se cedo para ter tempo de se arrumar juntamente com o filho, deixá-lo na escola e seguir para a faculdade. Saia sempre algum minutos antes da aula acabar para dar tempo de buscar o filho. Ao chegar em casa dava-lhe banho, almoço e colocava-o para descansar.

Como ainda não dispunha de tempo para trabalhar fora, começou a trabalhar com encomendas de doces e salgados na sua própria casa. Assim, Louise garantia uma renda e de quebra não deixava o filho sozinho. E assim seguia sua rotina: cuidar do filho, da casa, das encomendas, dos estudos, do marido, etc...
Passou-se o tempo e certo dia, como era de costume, Louise foi verificar se os deveres-de-casa do filho estavam em dia. Surpreendeu-se com uma solicitação da professora de redação a qual pedia: Escreva um pequeno texto com o tema: ser mulher é...
Louise percebeu que o filho ainda não havia realizado a tarefa a qual era para ser entregue no dia seguinte. O que indicava que provavelmente ele não faria a atividade ou escreveria qualquer coisa no papel para entregar à professora.
Naquele instante, Louise pôs-se a pensar sobre a questão e, de repente, pegou a caneta e começou a escrever no caderno:

- Mulheres são negras, brancas, orientais.
- Mulheres são ricas, pobres, de classe média.
- Mulheres são mães, amigas, amantes.
- Mulheres são doutoras, são analfabetas, são madames.
- Mulheres são grandes líderes, patroas, empregadas.
- Mulheres são amáveis, humildes e generosas.
- Mulheres são suaves, fracas, fortes.
- Mulheres são carentes, caretas, libertárias.
- Mulheres são eficientes, glamurosas e independentes.
- Mulheres são ciumentas, geniosas, histéricas.
- Mulheres são "vítimas", são "vilãs".
Para todos os adjetivos existe uma mulher, mas principalmente, toda mulher é, por natureza, uma GRANDE GUERREIRA.

Todo esse turbilhão de idéias acabou por fazer com que Louise lembrasse do quanto era especial e essencial para todos que a rodeavam, mesmo que estivesse longe de ser perfeita. Uma pena que raramente os outros lembrassem disso.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A vaidade

Katie sempre gostou de ser o centro das atenções. Desde os tempos colegiais sempre lhe fez a cabeça a idéia de ser a garota mais popular da escola da qual todos queriam ser amigos. Agora já adulta, seu sonho de consumo era freqüentar as colunas sociais, estar nas listas vips das festas mais badaladas da cidade e principalmente, ser sempre o foco das atenções em todo lugar que chegasse. Seu lema era aquele velho cliché "falem mal ou falem bem, mas falem de mim".
Para atingir o seu propósito, fazia o tipo espalhafatosa. Tudo em Katie era em excesso. Falava alto, risadas escandalosas, vestimentas nada discretas do tipo decotes profundos, cores fortes e quanto menos pano, melhor.

Seus amigos obviamente conheciam seu jeito egocêntrico mas já estavam para lá de acostumados. Afinal suas farras eram sempre inesquecíveis e era que isso que importava na maioria das vezes. E até acreditavam que se ela não fosse daquele jeito não seria ela. Katie era sempre figurinha carimbada das festas e até mesmo quem não a conhecia sabia quem era ela.

A oportunidade para mais um de seus espetáculos veio quando fora anunciada uma daquelas festas dondocas que reúnem os mais "badalados" da cidade. Katie logo pensou que jamais poderia ficar de fora e já imaginava- se estampada nas colunas sociais. Portanto, não mediu esforços nem grana para estar divina naquela noite. Foi a semana inteira entre salões para por a depilação em dia, sombrancelhas no lugar, retoque da tintura, esmalte Dara nas unhas e mais o que fosse preciso para deixá-la poderosa. Rodou o shopping inteiro atrás do vestido mais sexy e à altura do seu intuito: chamar todas as atenções. Além disso, começou um regime que a deixasse magérrima para a tal noite tão esperada.

Chegado o dia, ou melhor a noite da festa, quando já havia terminado a odisséia de preparativos, estava deslumbrante. Cabelos divinos, maquiagem carregadíssima mas que destacavam seus traços mais marcantes, salto nas alturas e um mini vermelho de deixar qualquer um boquiaberto.

Ao chegar à festa os olhares voltaram-se para Katie. Era sem dúvida, o centro das atenções naquele instante despertando a cobiça dos homens e a inveja das mulheres. No entanto, como estava altamente eufórica começou a tragar algumas doses de tequila, seu drinque favorito, e em seguida mais algumas doses de vodka.
Entretanto, o jejum de vários dias, a euforia e a mistura de bebidas logo criaram uma combinação explosiva. Uma verdadeira bomba atômica. No decorrer da festa, Katie deu todos os vexames possíveis: agarrava todos o homens e deixáva-se agarrar, dançava sensualmente e atirava-se sem se importar de bater nas pessoas ou derramar bebidas nos outros e obviamente, não falava coisa com coisa. Mas o ápice de toda a tragédia ainda estava por vir.
Como já encontrava-se amplamente transtornada e achando que tudo podia, resolveu subir ao palco onde a banda convidada se apresentara. Bancando a própria performancer, logo engatou seu salto altíssimo pelos cabos espalhados levando um vertiginoso tombo por cima dos instrumentos. Neste mesmo instante, já sem um dos sapatos e com o vestido todo arrebentado, apagou de vez.

Seus amigos correram em seu socorro, levando-a à emergência de um hospital. Quando acordou , viu-se toda machucada e tomando soro para recompô-la do porre que havia tomado.
Durante alguns dias, o que mais ela ouviu foram os comentários nada garbosos sobre o incidente daquela noite, do qual Katie era a estrela principal. Seu propósito estava alcançado. Era agora o centro das atenções e dos comentários dos fofoqueiros de plantão. E até os seus amigos não poupavam-lhe das piadinhas.

Durante algum tempo Katie sentiu-se envergonhada. Mas nada que o tempo não a ajudasse a superar. Passado mais algum tempo, lá estava Katie impecável e poderosa como sempre tinha sido. Mas agora sem excessos. Sabia que a sua extrema vaidade podia lhe levar ao topo e, como se sabe: quanto mais alto, maior a queda.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A mentira

Nicole estava no auge dos seus 20 anos e nunca havia namorado. Pelo menos, nunca havia assumido um relacionamento com ninguém. Sempre fez o estilo recatada, e portanto, sempre tinha aquele receio de apresentar alguém como namorado e todos ficarem a chacoteá-la com comentários do tipo "ê, tá namorando...".
Obviamente que ela sempre se interessava pelos garotos que a rodeavam, mas sempre os rejeitava, fazendo o tipo durona. Mas agora não era mais uma garota colegial. Já era maior de idade e estava na hora de aprender a lidar com as situações da vida, e aqui no caso, sua vida afetiva.

Ao iniciar o curso de inglês, começou a se interessar por um de seus colegas de classe. Logo tornaram-se próximos, extremamente chameguentos e não tardou a engatarem um namoro.
No entanto, só assumiram o relacionamento depois de muito tempo, quando já era evidente demais e ninguém mais caia na lorota do "somos apenas amigos".
Faziam todos os programas juntos: cinema, sessão de fast-food, aniversários de amigos e todos os programas piegas que namorados normais fazem. Costumavam freqüentar um a casa do outro, mas ele freqüentava mais a dela do que ela a dele. Mas nada fora do normal, pois ela se sentira muito mais a vontade em sua casa. Os dois eram estudantes universitários e levavam uma vida normal como a da maioria dos jovens de sua faixa etária e nível social. Ele além da faculdade, fazia um curso de violão clássico.

Com o passar do tempo estavam extremamente íntimos. Tinham vários amigos em comum e sempre opinavam nas decisões de cada um. Mas Nicole começou levemente a desconfiar de que o namorado nunca conseguia trabalho e não atuava na área que estudava.

Certo dia, quando foi à casa dele, no aniversário do seu cunhado, surpreendeu-se quando ficou um instante a sós com a mãe dele. Ela pediu a Nicole que ajudasse o filho a voltar a estudar. Falou que ele andava muito desestimulado e que talvez Nicole pudesse fazer algo . A conversa logo foi interrompida quando chegaram mais parentes que exigiram a atenção dos anfitriões.

Nicole resolveu não comentar nada e averiguar a história. Ligou para um dos amigos que cursavam faculdade junto com ele e este confirmou algo que ela jamais imaginava: o namorado havia largado a faculdade havia quase um ano. Na hora, ela fez questão de averiguar a escola de violão e lá ela descobriu que raramente ele freqüentava as aulas. Nicole ficou pasma.
Naquela noite, como era de costume ele sempre ia visitá-la. Assim que ele chegou ela, de maneira um tanto sutil, como nada quer o fez algumas perguntas do tipo "Como está indo o curso?", "Você já avançou de nível no violão?" e tudo ele confirmava positivamente. Naquele instante, ela quase explodiu de raiva. Era tudo mentira. Jogou na cara dele que já sabia de toda a verdade. Não havendo possibilidades de negar, ele confessou tudo. Entre lágrimas disse que não fazia por mal, pois nunca conseguia parar de mentir. Começava com uma mentirinha boba mas que acabava por torna-se uma bola de neve.

Nicole, apesar de toda decepção, tentou compreender que aquilo poderia ser um distúrbio psicológico e consentiu em ainda ser sua amiga. O que de fato foi difícil, pois jamais conseguia confiar nele de novo. Sempre lembrava que durante quase dois anos, tudo não tinha passado ilusão, enganação. E agora nem amiga conseguia ser, pois a simples idéia de ter a presença dele a incomodava.

Passado algum tempo, surgiu uma oportunidade de viagem a Nicole. Ela aceitou. Trancou os cursos que fazia, pediu demissão, arrumou as malas e foi. Ele ficou, e talvez continuasse no seu mundo de fantasias.
De fato, não foi o fim do mundo para Nicole e até lhe serviu como um pontapé para uma nova vida. E como de tudo na vida se tem que tirar uma lição, ela aprendeu que nem sempre conhecemos de verdade aqueles que nos rodeiam.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A ira

Lohana era o próprio ciúme em pessoa. Tinha ciúme das amigas, da mãe, do pai, dos irmãos, das próprias coisas. Do namorado então nem se fale. Este, aliás, fora apresentado por uma amiga em uma festa de aniversário. Depois de alguns meses de relacionamento, os dois decidiram se casar.

Lohana era uma mulher dependente emocionalmente do marido. Era formada, trabalhava,, tinha um ambiente familiar amparador, mas era totalmente carente. Era um grude total. Tudo ela queria “fazer junto”. Se as amigas a convidavam para algum programa, recusava, pois preferia ficar com o marido. Isso no inicio do relacionamento era ótimo, pois se ele se sentia o próprio vendo que a namorada preferia a ele do qualquer programa. Mas com o passar do tempo Lohana se tornou altamente controladora e neurótica. Desconfiava de tudo e todos.

Começou a controlar todas as saídas do marido. Se este ia ao jogo de futebol, fazia uma ficha completa contendo local, horário de início e final, lista dos amigos que iriam o acompanhar, horário estipulado para chegar em casa, etc. Se este chegasse 10 minutos depois do combinado já seria motivo para ele dormir no sofá. Se demorasse mais ainda provavelmente o apartamento viraria um próprio ringue de vale-tudo. Bar com os amigos no final de semana nem pensar. Era apenas um motivo para sair e paquerar outras mulheres. Mas o maior terror de Lohana eram as amigas do marido. Estas sim eram capazes de tirá-la completamente do sério e a um passo de torná-la uma homicida. Partia da filosofia de que homem não tem amigas e que homem só chama de amiga aquela que ele não levou para a cama, mas ainda tem vontade de levar ( ou as vezes até chegou a levar, afinal nem homens nem mulheres são santos). E no caso de Lohana era complicado, pois este tinha uma ampla lista de amigos na qual a maior parte era do sexo feminino.

Todo o ciúme tornou Lohana uma mulher azeda. Por qualquer motivo estava de cara amarrada. No trabalho, a atitude não mudava. Estava quase sempre irritadíssima, parecendo um vulcão prestes a entrar em erupção. Para os amigos era óbvio que Lohana precisava seriamente de uma terapia para aprender a controlar seus impulsos. Mas talvez esta fosse a maior terapia para ela: descontar toda a raiva em cima do marido armando escândalos e quebrando toda a casa.

O fato é que quanto mais se teme mais evoca as situações. Com as constantes crises de Lohana, seu marido começou a se aproximar mais de uma colega de trabalho. Cansado das constantes brigas encontrou aquele ombro amigo naquela colega que estava ali diariamente do seu lado. E com o tempo foi inevitável. Começou a ver na colega tudo o que lhe fazia falta em Lohana: o diálogo, o companheirismo, a compreensão e não tardou a pedir a separação.

Para Lohana foi um tremendo choque. Principalmente pelo fato de ter sido comparada e trocada. E não existe nada pior do que a comparação. Ela rogou uma tremenda praga aos dois: que mais cedo ou mais tarde a mesma situação acontecesse a um dos dois para sentirem na pele toda a ira que estava sentindo naquele momento.

Sua desconfiança com os homens só aumentou. Não consegue mais se envolver seriamente com ninguém. Sempre tem a sensação de estar sendo passada para trás. A terapia da qual precisava nunca procurou. Prefere ir levando a vida como sempre levou: feito um barril de pólvora prestes a explodir.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Em busca do equilibrio

Harelli achava que finalmente havia encontrado o homem da sua vida. Carinhoso, atencioso, que lhe mandava flores, ligava sempre para dar bom dia, boa tarde e boa noite e outras coisinhas mais. Ou seja, fazia de tudo para lhe agradar. Harelli também correspondia da mesma maneira (só não mandava flores). Como já eram amadurecidos o bastante, depois de alguns meses de namoro resolveram assinar o contrato de convivência.

Mas alguns meses passados após as juras de amor eterno, eis que surge um novo homem. Pelo menos só agora se apresentava. Aquele homem atencioso e apaixonado nada mais tinha a ver com o cara chato, cheio de manias e péssimos hábitos com quem Harelli estava casada. Mas de fato, Harelli também já não era a mesma mulher dos meses antes do enlace.

Harelli era do tipo metódica. Gostava de tudo em ordem e também era cheia de manias. Tinha mania de limpeza, gostava de tudo minimamente limpo e organizado. Caixinha disso, caixinha daquilo, não suportava banheiro sujo e outras coisas mais. Portanto, não podia admitir salpicar comida toda vez que ia ser servir, não retirar o prato após a refeição feita, deixar roupas, cuecas e meias espalhadas pelo chão, latas de cervejas entulhadas pelo carro e etc...

Cabia sempre à Harelli a manutenção da casa em geral. Desde o supermercado até à festa para os amigos dele. Até que ela foi percebendo que se sentia melhor quando ele não estava por perto. E talvez ele sentisse o mesmo.

Começou a relembrar dos tempos de solteira quando saía com as amigas e ficava pensando no motivo pelo qual sempre estava solteira. Os relacionamentos nunca duravam tanto. Começou a pensar onde estava o erro. Começou a pensar que os homens sempre querem uma mulher Bombril, que seja mãe, amiga, psicóloga, amante e o diabo a quatro, mas que sempre esteja sempre com um sorriso atravessado no rosto. Ficou por um tempo a pensar: “Por que as pessoas se casam?”.Por que “tornar-se um”, quando a vida de solteiro, pelo menos ao que parece, seria mais fácil?”.

Mas se realmente as pessoas se casam é por algum motivo. Estabilidade, amor, segurança, seja lá qual for o motivo, o fato é que existe um motivo. Harelli então resolveu dar mais uma chance à relação. Mas adotou outra postura. Ao invés de se aborrecer com a desorganização do marido, começou a dar atenção para outras coisas. Ou marcava um encontro com as amigas, ia ler um livro, se matriculava num curso disso ou daquilo. Algo que lhe afastasse da rotina diária da casa. Com o tempo, o marido começou a se incomodar com a bagunça da casa. Nunca achava nada no lugar; não tinha roupas limpas ou passadas quando precisava; a pia sempre abarrotada de louças sujas e todos os outros inconvenientes de uma casa sem nenhuma direção. Este teve que aprender, mesmo que a contra gosto, que para conseguir viver “harmonicamente” uma vida a dois é preciso balancear a equação. Para haver equilíbrio os dois têm que ceder, para que não sobrecarregue um dos lados e ocorra uma verdadeira explosão.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A cobiça

Sally era um misto de encanto e malícia. Estava no auge de seus 19 anos e estava acostumada a possuir o que queria, principalmente quando se tratava de homens. Como era demasiadamente atraente, em geral não havia homem que a resistisse.

Neste mesmo período estava entrando na faculdade. O clima era de total euforia. 50 pessoas que nunca (ou quase) tinham se visto agora iriam conviver diariamente por 4 anos. É claro que muitos desistiram pelo caminho. No segundo ano, já contavam pelo menos 40 alunos na turma, pois muitos haviam passado em duas faculdades e depois acabaram por largar o curso. Era o caso de Sally. Mas ela tinha decidido que levaria as duas, o que de fato foi praticamente impossível, pois a vida não é uma estrada reta e sem obstáculos. Ao final do segundo ano, os estudos apertaram e ela teve que optar. Então decidiu largar um de seus cursos por 6 meses e depois faria a mesma coisa na outra para retomar.

Ao passar o semestre, Sally voltou como havia planejado. Mas um acontecimento que não estava no script pegou-a de surpresa. Logo no seu primeiro dia de aula, ao adentrar a sala e olhar o ministrante da aula, seus olhos brilharam. Apaixonou-se à primeira vista pelo seu professor. Ele nada tinha de tão espetacular fisicamente. Era baixinho, aparentava estar batendo à porta dos 40, mas tinha um jeito encantador. E não encantava apenas Sally, mas a maioria das outras alunas. Mas o príncipe já havia montado seu castelo. Era casado e tinha uma linda e adorável filha. A esposa também era professora do mesmo departamento, que deixava Sally em uma situação constrangedora. A cada aula sentia algo lhe espetar. Talvez fosse o bichinho da dor de cotovelo. Como aquele homem poderia nem a notar, pelo menos da maneira que ela esperava?

Resolveu investir na conquista. Se dedicava amplamente àquela disciplina para obter excelentes resultados, como maneira de chamar a atenção. De nada adiantou, aquele homem sempre parecia sério demais. Elogiava apenas pela questão de mérito, assim como elogiava aos outros alunos que obtivessem bom desempenho. Resolveu apelar mesmo para o que sempre teve de mais atraente: sua beleza física. Maquiagem, unhas feitas, cabelos em ordem, saltos, mini-saias, decotes, etc...

Nada. Aquele homem parecia insensível às suas investidas. Se a notava, fazia questão de nada demonstrar. E talvez fosse aquele desprezo que atraísse cada vez mais o interesse de Sally por aquele homem. Mas todas as suas tentativas foram fracassadas. Ao decorrer do tempo começou a dar-se por vencida. Mas ainda sonhava com o dia com que ele pudesse acalentar seus desejos.

O semestre acabou e no seguinte a esposa foi a professora de uma das disciplinas. Sally começou a adquirir respeito por aquela mulher e a idéia de destruir um lar, uma familia ou um amor começou a lhe incomodar. Se aquele homem era realmente fiel à sua esposa não poderia afirmar, mas certamente esforçava-se para ser.E Sally foi obrigada a entender que nem sempre querer é poder.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Mulheres Perfeitas

*Este post foi escrito originalmente em 08/01/08. É baseado no filme de mesmo título.

Ashley era uma mulher bem sucedida. Formada, pós-graduada, tinha um bom emprego o que lhe garantia segurança e estabilidade. Dedicou sempre o seu tempo em busca de realização profissional e pouco se dedicava ao seu casamento. Filhos nem pensar, correria o risco de conviver com estranhos de seu próprio ventre.

Tudo corria "tranqüilamente" até que um dia lhe surgiu algo um tanto inesperado: uma súbita demissão. Seus superiores declararam que seu trabalho era bom, mas estaria trazendo certos inconvenientes à empresa. Ashley levou alguns segundos para voltar a si. Na volta para casa veio refletindo sobre todo o caminho que tinha trilhado até aquele momento. Pensou na seu esforço para sempre ser a primeira da sala na época da faculdade. Das noites em claro para conseguir a vaga de pós-graduação. Do empenho para que a empresa estivesse sempre em ordem.
Ali decidiu que não iria mais fazer tudo de maneira tão ordenada e planejada. Claro que não deixaria de ser a mulher responsável que sempre foi. Mas seria mais moderada. Moderada seria a palavra-chave.

Resolveu investir mais no casamento que há bastante tempo já vinha amornando. Mudou-se para uma cidade menor longe do caos urbano. Ao chegar à cidade percebeu que as pessoas pareciam sempre felizes. As mulheres eram "perfeitas". Eram carinhosas, obedientes, sempre com a imagem impecável, ocupavam-se apenas das tarefas domésticas. Ashley logo estranhou todo aquele comportamento. No entanto, achou que poderia ser paranóia sua só porque ela era uma mulher de hábitos urbanos. Resolveu, portanto se adequar. Com o passar do tempo começou a estranhar as saídas do marido e sua demora a voltar. Começou a investigar e encontrou algo que não podia jamais imaginar. Descobriu que seu marido juntamente com os outros maridos da cidade haviam fundado uma sociedade secreta. O objetivo era fazer uma verdadeira transformação no cérebro das mulheres através de lavagens cerebrais tornando-as "doces" e submissas. E Ashley era o próximo alvo.

Seu marido estava cansado de sempre ser deixado de lado e se submeter a seus caprichos e achava ter encontrado uma boa solução. Mas este amava sua mulher e talvez a amasse do jeito que era. Só dependia dos dois para encurtar o fosso que os separavam, principalmente, dependia mais dela já que ele sempre esteve disposto a tentar.

Talvez aqui valha a pena mencionar o pensamento de Aristóteles. É preciso ter equilíbrio para ser feliz. Só através do equilíbrio e da moderação é que podemos nos tornar pessoas felizes ou "harmônicas". Ashley descobriu que trabalhar de menos seria preguiça, mas trabalhar demais poderia ser insanidade.

A tentação

*Este post foi escrito originalmente em 27/12/07 sob o título de "Coisas de mulher (e de homem também)".

Roxy sempre foi uma mulher cabeça feita. Quando criança sempre foi tranquila e preservou esta tranquilidade na adolescência. Namorados, estes podem ser contados a dedo, pois dizia nunca se sentir totalmente segura para se entregar de verdade. Resolveu dar de presente a sua virgindadade com quase 30. Mas desde então passou a nutrir um sonho de consumo: ter um orgasmo.

Realmente ainda há mulheres que talvez nunca tenham experimentado esta deliciosa sensação. E Roxy agora fazia parte deste time. Começou a pensar que a culpa estava no namorado e este começou a padecer com as cobranças de Roxy. Entraram em crise.

Roxy era tímida, mas de fato uma mulher muito atraente. Tinha uma elegância sutil e que realmente não tinha quem não a notasse. Eis então que surge o que seria para ela sua válvula de escape. Escapada mesmo. Seu colega de trabalho bonito, bem sucedido, como diria aquela música do Herva Doce "Moreno alto, bonito e sensual/ Talvez eu seja a solução dos seus problemas...". Pois é, dizem que o pecado mora ao lado, o que de fato não sei, mas se não morava, trabalhava ao lado. E as investidas dele passaram a ser diárias. Roxy ficou tentada.

Entretanto, Roxy não deixara de ser a mulher cabeça feita que era. Pediu conselhos a uma amiga mais experiente sobre como deveria agir diante daquele seu dilema. Esta pela sua experiência logo percebeu que o "problema" de Roxy estava na sua "inexperiência" sexual e aconselhou-a a primeiro se auto -conhecer melhor e até se permitir mais, e que a solução não estaria em sair com um bonitão. Poderia ser trágico. Sentiria-se frustrada tanto por não conseguir o seu propósito quanto por trair o namorado. Roxy seguiu o conselho e sua consciência: não saiu com o bonitão e fez as pazes com o namorado e hoje já planejam até casamento. Se ela conseguiu realizar seu sonho realmente não sei, mas acredito que está a caminho de realizá-lo. Afinal, toda mulher tem os mesmos direitos que os homens.

 

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