terça-feira, 15 de julho de 2008

A farsa

Marjorie via-se perecer a cada ano que passava numa velocidade súbita. O viço da sua beleza cedia lugar a um constante ar de fadiga e até mesmo, doentio.
Havia pouco mais de dois anos de casada que mais pareciam 30.Toda a paixão fulminante do início havia se reduzido a quase pó. As loucuras, declarações davam lugar agora às súplicas, discussões cada vez mais constantes. Ela cobrava a atenção devida e ele chegara ao ponto de por vezes, detestá-la, por não suportar suas insistentes cobranças.
Odiava as chantagens dela, pois suas cobranças só colaboravam para diminuir o sentimento que ainda lhes restava por ela. Gostava dela, lhe tinha afeição, mas por que tem que ser tão insuportável? Pensava ele.
- Não vá, por favor. Fique comigo. Implorava ela.

- Me deixe em paz. Pensava ele.

Mas apesar de tudo, lhe faltava a coragem necessária para colocar um ponto final naquela relação que para ele, tinha se tornado um fardo. Tinha um sentimento de pena e no final das contas, não lhe queria mal.
O comodismo havia se instalado na vida daquele casal que no final das contas, pareciam não ter mais motivo algum para continuarem juntos. Ele, a qualquer momento arranjara desculpas para não permanecer em casa. Não tardou a começar a se interessar por outras mulheres, chegando cada vez mais tarde em casa. E Marjorie cada vez mais, afundava na amargura de seu inexorável destino.
Marjorie por vezes lamentava não dar aos seus sentimentos a expressão violenta que eles exigiam. Possuía um excepcional auto-controle, pois partia da idéia que somente mulheres de baixo calão faziam cenas e barracos.
No entanto, Marjorie era extremamente obcecada pelo marido. Não imaginava a vida longe daquele homem. O amor por ele superava o seu amor-próprio. Pensava que toda aquela situação passaria com o tempo; que se tratara de uma fase típica de casais; que o casamento não é feito apenas dos bons momentos e que o verdadeiro amor reside no fato de ter força para superar os momentos ruins; e outras lenga-lengas do gênero.
Chegara o aniversário de três anos de união. Ele obviamente não se lembrara. Mas ela não perdia a chance e a esperança de tentar reconquistá-lo, ou na melhor das hipóteses, comovê-lo.
Nesta noite os dois viveram um efêmero estado de intimidade. Um estado de relações repleta de uma singular falsidade.
Entretanto, o descaso dele falaria mais alto. Como não lembrara-se da data, já havia marcado um compromisso o qual não desmarcaria por conta da ocasião, deixando Marjorie sozinha no decorrer da noite.
Parecia o fim; a gota final; e Marjorie parecia realmente disposta a largar esta vida de amargura. Pegou uma mala e começou a jogar alguns pertences dentro. Mas no decorrer da arrumação pôs-se a pensar: Para onde iria? Como se sustentaria? Com quem contaria? Não possuia emprego, nem muitas experiências. Seus pais não moravam na cidade e também não poderiam ajudá-la naquele momento. Viu-se sozinha, num vácuo e pensou que já era ruim com ele, pior seria sem. Acabou por esvaziar a mala e a guardá-las novamente.
Voltou portanto, a representar a farsa que era o seu casamento.
 

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