sábado, 16 de fevereiro de 2008

A vaidade

Katie sempre gostou de ser o centro das atenções. Desde os tempos colegiais sempre lhe fez a cabeça a idéia de ser a garota mais popular da escola da qual todos queriam ser amigos. Agora já adulta, seu sonho de consumo era freqüentar as colunas sociais, estar nas listas vips das festas mais badaladas da cidade e principalmente, ser sempre o foco das atenções em todo lugar que chegasse. Seu lema era aquele velho cliché "falem mal ou falem bem, mas falem de mim".
Para atingir o seu propósito, fazia o tipo espalhafatosa. Tudo em Katie era em excesso. Falava alto, risadas escandalosas, vestimentas nada discretas do tipo decotes profundos, cores fortes e quanto menos pano, melhor.

Seus amigos obviamente conheciam seu jeito egocêntrico mas já estavam para lá de acostumados. Afinal suas farras eram sempre inesquecíveis e era que isso que importava na maioria das vezes. E até acreditavam que se ela não fosse daquele jeito não seria ela. Katie era sempre figurinha carimbada das festas e até mesmo quem não a conhecia sabia quem era ela.

A oportunidade para mais um de seus espetáculos veio quando fora anunciada uma daquelas festas dondocas que reúnem os mais "badalados" da cidade. Katie logo pensou que jamais poderia ficar de fora e já imaginava- se estampada nas colunas sociais. Portanto, não mediu esforços nem grana para estar divina naquela noite. Foi a semana inteira entre salões para por a depilação em dia, sombrancelhas no lugar, retoque da tintura, esmalte Dara nas unhas e mais o que fosse preciso para deixá-la poderosa. Rodou o shopping inteiro atrás do vestido mais sexy e à altura do seu intuito: chamar todas as atenções. Além disso, começou um regime que a deixasse magérrima para a tal noite tão esperada.

Chegado o dia, ou melhor a noite da festa, quando já havia terminado a odisséia de preparativos, estava deslumbrante. Cabelos divinos, maquiagem carregadíssima mas que destacavam seus traços mais marcantes, salto nas alturas e um mini vermelho de deixar qualquer um boquiaberto.

Ao chegar à festa os olhares voltaram-se para Katie. Era sem dúvida, o centro das atenções naquele instante despertando a cobiça dos homens e a inveja das mulheres. No entanto, como estava altamente eufórica começou a tragar algumas doses de tequila, seu drinque favorito, e em seguida mais algumas doses de vodka.
Entretanto, o jejum de vários dias, a euforia e a mistura de bebidas logo criaram uma combinação explosiva. Uma verdadeira bomba atômica. No decorrer da festa, Katie deu todos os vexames possíveis: agarrava todos o homens e deixáva-se agarrar, dançava sensualmente e atirava-se sem se importar de bater nas pessoas ou derramar bebidas nos outros e obviamente, não falava coisa com coisa. Mas o ápice de toda a tragédia ainda estava por vir.
Como já encontrava-se amplamente transtornada e achando que tudo podia, resolveu subir ao palco onde a banda convidada se apresentara. Bancando a própria performancer, logo engatou seu salto altíssimo pelos cabos espalhados levando um vertiginoso tombo por cima dos instrumentos. Neste mesmo instante, já sem um dos sapatos e com o vestido todo arrebentado, apagou de vez.

Seus amigos correram em seu socorro, levando-a à emergência de um hospital. Quando acordou , viu-se toda machucada e tomando soro para recompô-la do porre que havia tomado.
Durante alguns dias, o que mais ela ouviu foram os comentários nada garbosos sobre o incidente daquela noite, do qual Katie era a estrela principal. Seu propósito estava alcançado. Era agora o centro das atenções e dos comentários dos fofoqueiros de plantão. E até os seus amigos não poupavam-lhe das piadinhas.

Durante algum tempo Katie sentiu-se envergonhada. Mas nada que o tempo não a ajudasse a superar. Passado mais algum tempo, lá estava Katie impecável e poderosa como sempre tinha sido. Mas agora sem excessos. Sabia que a sua extrema vaidade podia lhe levar ao topo e, como se sabe: quanto mais alto, maior a queda.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A mentira

Nicole estava no auge dos seus 20 anos e nunca havia namorado. Pelo menos, nunca havia assumido um relacionamento com ninguém. Sempre fez o estilo recatada, e portanto, sempre tinha aquele receio de apresentar alguém como namorado e todos ficarem a chacoteá-la com comentários do tipo "ê, tá namorando...".
Obviamente que ela sempre se interessava pelos garotos que a rodeavam, mas sempre os rejeitava, fazendo o tipo durona. Mas agora não era mais uma garota colegial. Já era maior de idade e estava na hora de aprender a lidar com as situações da vida, e aqui no caso, sua vida afetiva.

Ao iniciar o curso de inglês, começou a se interessar por um de seus colegas de classe. Logo tornaram-se próximos, extremamente chameguentos e não tardou a engatarem um namoro.
No entanto, só assumiram o relacionamento depois de muito tempo, quando já era evidente demais e ninguém mais caia na lorota do "somos apenas amigos".
Faziam todos os programas juntos: cinema, sessão de fast-food, aniversários de amigos e todos os programas piegas que namorados normais fazem. Costumavam freqüentar um a casa do outro, mas ele freqüentava mais a dela do que ela a dele. Mas nada fora do normal, pois ela se sentira muito mais a vontade em sua casa. Os dois eram estudantes universitários e levavam uma vida normal como a da maioria dos jovens de sua faixa etária e nível social. Ele além da faculdade, fazia um curso de violão clássico.

Com o passar do tempo estavam extremamente íntimos. Tinham vários amigos em comum e sempre opinavam nas decisões de cada um. Mas Nicole começou levemente a desconfiar de que o namorado nunca conseguia trabalho e não atuava na área que estudava.

Certo dia, quando foi à casa dele, no aniversário do seu cunhado, surpreendeu-se quando ficou um instante a sós com a mãe dele. Ela pediu a Nicole que ajudasse o filho a voltar a estudar. Falou que ele andava muito desestimulado e que talvez Nicole pudesse fazer algo . A conversa logo foi interrompida quando chegaram mais parentes que exigiram a atenção dos anfitriões.

Nicole resolveu não comentar nada e averiguar a história. Ligou para um dos amigos que cursavam faculdade junto com ele e este confirmou algo que ela jamais imaginava: o namorado havia largado a faculdade havia quase um ano. Na hora, ela fez questão de averiguar a escola de violão e lá ela descobriu que raramente ele freqüentava as aulas. Nicole ficou pasma.
Naquela noite, como era de costume ele sempre ia visitá-la. Assim que ele chegou ela, de maneira um tanto sutil, como nada quer o fez algumas perguntas do tipo "Como está indo o curso?", "Você já avançou de nível no violão?" e tudo ele confirmava positivamente. Naquele instante, ela quase explodiu de raiva. Era tudo mentira. Jogou na cara dele que já sabia de toda a verdade. Não havendo possibilidades de negar, ele confessou tudo. Entre lágrimas disse que não fazia por mal, pois nunca conseguia parar de mentir. Começava com uma mentirinha boba mas que acabava por torna-se uma bola de neve.

Nicole, apesar de toda decepção, tentou compreender que aquilo poderia ser um distúrbio psicológico e consentiu em ainda ser sua amiga. O que de fato foi difícil, pois jamais conseguia confiar nele de novo. Sempre lembrava que durante quase dois anos, tudo não tinha passado ilusão, enganação. E agora nem amiga conseguia ser, pois a simples idéia de ter a presença dele a incomodava.

Passado algum tempo, surgiu uma oportunidade de viagem a Nicole. Ela aceitou. Trancou os cursos que fazia, pediu demissão, arrumou as malas e foi. Ele ficou, e talvez continuasse no seu mundo de fantasias.
De fato, não foi o fim do mundo para Nicole e até lhe serviu como um pontapé para uma nova vida. E como de tudo na vida se tem que tirar uma lição, ela aprendeu que nem sempre conhecemos de verdade aqueles que nos rodeiam.
 

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