Lohana era o próprio ciúme em pessoa. Tinha ciúme das amigas, da mãe, do pai, dos irmãos, das próprias coisas. Do namorado então nem se fale. Este, aliás, fora apresentado por uma amiga em uma festa de aniversário. Depois de alguns meses de relacionamento, os dois decidiram se casar.
Lohana era uma mulher dependente emocionalmente do marido. Era formada, trabalhava,, tinha um ambiente familiar amparador, mas era totalmente carente. Era um grude total. Tudo ela queria “fazer junto”. Se as amigas a convidavam para algum programa, recusava, pois preferia ficar com o marido. Isso no inicio do relacionamento era ótimo, pois se ele se sentia o próprio vendo que a namorada preferia a ele do qualquer programa. Mas com o passar do tempo Lohana se tornou altamente controladora e neurótica. Desconfiava de tudo e todos.
Começou a controlar todas as saídas do marido. Se este ia ao jogo de futebol, fazia uma ficha completa contendo local, horário de início e final, lista dos amigos que iriam o acompanhar, horário estipulado para chegar em casa, etc. Se este chegasse 10 minutos depois do combinado já seria motivo para ele dormir no sofá. Se demorasse mais ainda provavelmente o apartamento viraria um próprio ringue de vale-tudo. Bar com os amigos no final de semana nem pensar. Era apenas um motivo para sair e paquerar outras mulheres. Mas o maior terror de Lohana eram as amigas do marido. Estas sim eram capazes de tirá-la completamente do sério e a um passo de torná-la uma homicida. Partia da filosofia de que homem não tem amigas e que homem só chama de amiga aquela que ele não levou para a cama, mas ainda tem vontade de levar ( ou as vezes até chegou a levar, afinal nem homens nem mulheres são santos). E no caso de Lohana era complicado, pois este tinha uma ampla lista de amigos na qual a maior parte era do sexo feminino.
Todo o ciúme tornou Lohana uma mulher azeda. Por qualquer motivo estava de cara amarrada. No trabalho, a atitude não mudava. Estava quase sempre irritadíssima, parecendo um vulcão prestes a entrar em erupção. Para os amigos era óbvio que Lohana precisava seriamente de uma terapia para aprender a controlar seus impulsos. Mas talvez esta fosse a maior terapia para ela: descontar toda a raiva em cima do marido armando escândalos e quebrando toda a casa.
O fato é que quanto mais se teme mais evoca as situações. Com as constantes crises de Lohana, seu marido começou a se aproximar mais de uma colega de trabalho. Cansado das constantes brigas encontrou aquele ombro amigo naquela colega que estava ali diariamente do seu lado. E com o tempo foi inevitável. Começou a ver na colega tudo o que lhe fazia falta em Lohana: o diálogo, o companheirismo, a compreensão e não tardou a pedir a separação.
Para Lohana foi um tremendo choque. Principalmente pelo fato de ter sido comparada e trocada. E não existe nada pior do que a comparação. Ela rogou uma tremenda praga aos dois: que mais cedo ou mais tarde a mesma situação acontecesse a um dos dois para sentirem na pele toda a ira que estava sentindo naquele momento.
Sua desconfiança com os homens só aumentou. Não consegue mais se envolver seriamente com ninguém. Sempre tem a sensação de estar sendo passada para trás. A terapia da qual precisava nunca procurou. Prefere ir levando a vida como sempre levou: feito um barril de pólvora prestes a explodir.